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Estar-aí-para-outros como participa o da realidade de Cristo sobre a Eclesiologia de Dietrich Bonhoeffer

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Estar-aí-para-outros como participa o da realidade de Cristo sobre a Eclesiologia de Dietrich Bonhoeffer
Estar-aí-para-outros como participa o da realidade de Cristo sobre a Eclesiologia de Dietrich Bonhoeffer “ESTAR-AÍ-PARA-OUTROS” COMO PARTICIPAÇÃO DA REALIDADE DE CRISTO: SOBRE A ECLESIOLOGIA DE DIETRICH BONHOEFFER Kurt Appel / Nicoletta Capozza* Resumo A Eclesiologia em Dietrich Bonhoeffer é vida, reflexão e vida de novo. Revela-se em suas teses de doutorado e habilitação, na sua prática de pro- fessor na Universidade de Berlim, como pastor em Londres e sua atuação e- cumênica, na decisão como Igreja Confessante, na formação de pastores e no livro sobre o seguimento, na ilegalidade, na conspiração contra Hitler, na pri- são, nas cartas da prisão e no esboço para a Ética, finalmente com o martírio. Despojamento, autonomia, responsabilidade, representação vicária de Cristo, como “ser-para-outros” e liturgia conseqüente, unindo ação e oração, caracte- rizam o ser da Igreja. Zusammenfassung Die Ekklesiologie Bonhoeffers entstammt seinem Leben, spiegelt sich in seinen Werken und ist weiterhin sein Leben. Seine Doktorarbeit und Habili- tationsschrift widmen sich dem Thema, ebenso wie seine Tätigkeit als Profes- sor an der Universität, dann als Pfarrer in London und gleichzeitiges Engage- ment in der Ökumene, und wieder in Deutschland, bei der Entscheidung zur * Kurt Appel, Doutor em Teologia e Filosofia. Professor no Instituto de Teo- logia Fundamental na Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Vi- ena. Nicoletta Capozza, Doutor em Filosofia, com a tese Im Namen zur Treue der Erde. Versuch eines Vergleichs zwischen Bonhoeffers und Nietzsches Den- ken [Em nome da fidelidade à terra. Tentativa de comparação entre o pensa- mento de Bonhoeffer e Nietzsche], Münster 2003. Rev. Trim. Porto Alegre v. 36 Nº 153 Set. 2006 p. 583-597 Bekennenden Kirche, in seiner Tätigkeit als Prediger Ausbilder, selbst in der Il- legalität, bei der Verschwöhrung gegen Hitler, im Gefängnis, in den Briefen aus dem Gefängnis, den Entwurf einer Ethik und schliesslich das Martyrium. Einfaches Leben, Selbstständigkeit, Verantwortung, Stellvertretung Christi als „Für-Andere-Dasein“ und konsequente Liturgie, als Einheit zwischen Beten und Handeln, kennzeichnen das kirchliche Dasein. Para poucos teólogos a unidade entre vida e pensamento serve de tal forma como chave hermenêutica quanto para Dietri- ch Bonhoeffer. Bonhoeffer pensou o que viveu e viveu o que pensou. Isso vale de modo especial para seu pensamento sobre a Igreja e sua forma. A questão eclesiológica de fato se põe em Bonhoeffer, de um lado, no contexto de um engajamento pessoal profundo e, de outro, esse engajamento se espelha em suas refle- xões sobre a Igreja, das quais se ocupou desde seu tempo de es- tudo. Por isso, consideramos o esclarecimento da situação his- tórica e biográfica em Bonhoeffer como ponto de partida irre- nunciável para a elaboração de sua Eclesiologia. Tanto mais quando se tem presente que seu engajamento eclesial, assim co- mo suas reflexões, não ocuparam um lugar secundário em sua vida. Pelo contrário: Bonhoeffer concebe seu agir sempre como participação no ser da Igreja: desde a Universidade, passando pe- la atuação nas paróquias, doKirchenkampf à sua participação na conspiração contra Hitler. Sua Teologia é caracterizada, nisso, pela incansável busca por concreções da revelação no presente, quer dizer, o “aqui”, o “hoje”, o “para nós”. Lugar dessa concre- ção, antes de mais nada, é a Igreja, uma vez que tem o encargo de anunciar a palavra de Deus e representar o ser de Cristo no mundo. Daí o discurso a respeito da essência da Igreja não ser uma parte de sua Teologia, mas conter o sentido desse próprio discurso. Olhemos, portanto, agora, as diferentes fases do engaja- mento eclesial de Bonhoeffer para, então, explicitar o desenvol- vimento dos suas concepções eclesiológicas. 584 Bonhoeffer: Uma Teologia biográfica e uma biografia teológica Existe uma notável experiência na juventude do Teólogo, que é para ter marcado muito sua orientação, seu agir e seu pen- samento: a viagem a Roma (1924) e ter aprendido a conhecer a Igreja romana. “A fascinação pela Roma católica tornou-se um fator de efeito duradouro para o pensamento de Bonhoeffer”, es- 1 creve Bethge em sua biografia, registrando o que Bonhoeffer, naquela ocasião, havia anotado em seu diário: “Penso estar co- meçando a entender o conceito de Igreja”. Em 1927, Bonhoeffer, com 21 anos, publica sua tese de doutorado, com o título Sanctorum Communio. Eine dogmati- sche Untersuchung zur Soziologie der Kirche [Sanctorum Com- munio. Um estudo dogmático sobre a Sociologia da Igreja]. Com a ajuda da Sociologia e da dogmática, das categorias de Hegel (assim, p. ex., “o espírito objetivo”) e o pensamento dialogal (a “relação eu-tu”), com referência a Troeltsch, mas sobretudo Bar- th, tenta explicitar o conceito de “Igreja”: Igreja como Commu- nio Sanctorum é para Bonhoeffer simplesmente a presença de Cristo no mundo. Ao mesmo tema também está dedicada sua tese de habili- tação: Akt und Sein. Transzendentalphilosophie und Ontologie in der systematischen Theologie [Ato e ser: Filosofia transcendental e ontologia na Teologia sistemática] em 1930. Procura clarear as premissas epistemológicas do conceito de Igreja. Se a Igreja é a concreção da revelação de Cristo no mundo, assim se coloca a pergunta como se poderá conhecer a revelação em si mesma. Nisso mostram-se, para Bonhoeffer, dois conceitos. O primeiro (primado do ato, da reflexão) apóia-se nas categorias da filosofia 1 BETHGE, Eberhard. Dietrich Bonhoeffer. Eine Biographie.Gütersloh 1994, p. 87. 585 transcendental (Kant). O segundo (primado do ser-aí), sobre a ontologia (no sentido de Heidegger). Bonhoeffer, que critica o individualismo de ambas as concepções, quer mostrar como es- ses conceitos se expressam na essência da Igreja por consistir, não tanto no ato de fé, quanto no ser, ou no estar-na-Igreja. A I- greja como unidade de ato e ser é, portanto, a resposta à pergunta pela explicação da revelação. Somente na participação na Igreja pode-se conhecer a revelação. O que, no entanto, significa em concreto a participação na Igreja é a questão que Bonhoeffer se colocará dramaticamente sob as condições dos eventos políticos de 1933. O tema “Igreja”, contudo, já antes, no período acadêmico (1931-1933), não desapareceu. Bonhoeffer lhe dedica as prele- ções do semestre de verão de 1932, Das Wesen der Kirche [A es- sência da Igreja], e um artigo, Was ist Kirche? [O que é Igreja?]), publicado em janeiro de 1933. No artigo Die Kirche vor der Ju- denfrage [A Igreja ante a questão judaica], de abril de 1933, já não aborda mais o problema no plano científico. Agora se trata de atualidade: sua Igreja ameaça introduzir o parágrafo ariano [Determinação estatal alemã pela qual o direito de cidadania fi- cava reservado aos arianos. N.T.]. Bonhoeffer sabe: aquela Igreja que introduz o parágrafo ariano, rompe com a Igreja de Cristo. Desse ponto em diante, nasce um novo conceito de Igreja. Igreja não é uma instituição a-histórica, mas está inescapavelmente in statu confessionis. Somente como confessante, isto quer dizer, como seguidora, a Igreja é Igreja de Jesus Cristo. Para entender melhor essa virada, não é sem importância relembrar alguns e- ventos da política eclesial alemã daqueles anos: julho de 1933, vitória dos “Cristãos alemães” [setor da Igreja Luterana, alinhado ao nazismo, n. T.] nas eleições eclesiais; agosto de 1933, a Con- fissão de Bethel, para cuja formulação Bonhoeffer havia dado uma contribuição essencial; 5 de setembro de 1933, o parágrafo ariano é introduzido pelo assim chamado “Sínodo Marrão” [refe- 586 rência à cor nazista, n. T.]. Maio a outubro de 1934, o Sínodo de Barmen e Dahlen funda a Igreja Confessante. De outubro de 1933 a fevereiro de 1935, Bonhoeffer é pá- roco em Londres e participa, por sua atividade no plano ecumê- nico, da luta na Igreja (contra os “Cristãos alemães” colaborado- res dos nacional-socialistas). A partir da primavera de 1935, é regente do seminário de pregação de Finkenwalde. Aí pode de- senvolver seu conceito de Igreja, não apenas teórica, mas sobre- tudo praticamente. Resultado desse período é o livro Nachfolge [Trad. bras. Discipulado]. A Igreja como Igreja in statu confes- sionis caracteriza seu ser como Igreja seguidora. No seguimento [ou discipulado] está a essência do ser cristão, e o seguimento só pode ser realizado na “vida comum” [Também título de uma o- bra, n. T.]. Isso quer dizer que a Igreja, por um lado, consiste na fé e na obediência a Jesus, porque somente a fé e a obediência possibilitam o seguimento. De outro lado, realiza-se somente no concreto ser-um-com-outro, sem o qual o seguimento sempre corre o risco do ato de auto-satisfação e individualismo. Seguimento deve ser entendido na luz de um outro moti- vo, especialmente desenvolvido no discurso ecumênico desse tempo: Bonhoeffer o designa, o “mandamento de Deus”. A Igre- ja in statu confessionis não é apenas a Igreja seguidora, mas também a portadora e a proclamadora do mandamento de Deus, sempre dirigido ao mundo e ancorado na realidade do mundo ou no kairós da história. Esse motivo é aprofundado na Ethik [Éti- ca] e conduz, em última análise, à supressão da separação entre Igreja e mundo. A raiz dessa passagem do conceito de uma Igreja separa- da do mundo, como ainda aparece em Nachfolge, para a aborda- gem de uma unidade entre a realidade do mundo e da revelação, está mais uma vez num evento histórico. Em 1937, é definitiva- mente fechado o seminário de Finkenwalde, depois de ter existi- do na ilegalidade desde 1935. Para suprir a mesma função de preparar os pastores da Igreja Confessante, Bonhoeffer organi- 587 zou encontros locais em alguns vicariatos. Ao mesmo tempo en- tra em contato com o círculo conspiratório de Canaris e Hans von Donahnyi. O que o leva a dar esse passo, pelo qual é posto numa situação peculiar frente aos seus coirmãos, não é por últi- mo a diminuição da Igreja confessante. Em 1938, essa atinge o fundo do poço, quando, ante o medo da dissolução definitiva, fi- nalmente adere ao juramento a Hitler e não assume uma posição decidida em relação à “Noite dos Cristais”. Nesse ano ficou claro para Bonhoeffer que o mandamento divino também não seria mais audível na Igreja confessante, mas em outro lugar. Apesar disso, em sua Ethik, escrita nos anos de sua pri- são, ainda indica um lugar para a Igreja. Ela é o “preceito de Deus no mundo”. Escreve ele: O mundo, saiba ele ou não, está relacionado a Cristo. Essa relação do mundo a Cristo torna- se concreta em determinados preceitos de Deus. A Escritura conhece quatro de tais pre- ceitos: o trabalho, o matrimônio, a autoridade, a Igreja. [...] À diferença dos três primeiros mencionados [anteriormente], trata-se, no pre- ceito divino sobre a Igreja, do encargo de dei- xar tornar-se realidade a verdade de Jesus Cristo na proclamação, no ordenamento ecle- sial e na vida cristã. Trata-se, portanto, da sal- vação do mundo inteiro. O preceito da Igreja estende-se sobre toda a humanidade e, na ver- 2 dade, dentro de todos os outros preceitos. 2 BONHOEFFER, Dietrich. Ethik (Dietrich Bonhoeffer Werke VI). München 1992, p. 54s. 588 Aí também a aliança entre a Igreja e os elementos “mun- danos” da resistência contra o nacional-socialismo – nascida des- sa resistência – é dignificada: Iniciamos este parágrafo, chamando a atenção para uma das mais surpreendentes experiên- cias que vivemos nos anos de tribulação de tudo o que é cristão. Frente à idolatria do irra- cional do sangue, do instinto, do predador no ser humano bastava o apelo à razão; frente à arbitrariedade, bastava o apelo ao direito escri- to; frente à barbárie, bastava o apelo à educa- ção e à humanidade; frente à violentação, o apelo à liberdade, à tolerância e aos direitos humanos; frente à politização da ciência, da arte, e assim por diante, a indicação da auto- nomia dos diferentes âmbitos de vida, para en- tão imediatamente despertar uma espécie de comunidade de aliança entre os defensores desses valores acusados e os cristãos. Razão, educação, humanidade, tolerância, autonomia – todos esses conceitos, que até pouco tempo tinham servido como slogans voltados contra a Igreja, contra o cristianismo e mesmo contra o próprio Jesus Cristo – de repente se encon- travam surpreendentemente muito próximos 3 do âmbito do cristianismo. Que a questão eclesiológica não é abandonada com a Ethik, como alguns intérpretes de Bonhoeffer, nos anos 60 e 70, afirmaram, confirma-se pelo fato de o tema Igreja aparecer fre- qüentemente nas cartas da prisão. No dia 5 de abril de 1943 Bonhoeffer é preso. A acusação inicialmente é menos grave do que ele mesmo pensara no pri- 3 Ethik (DBW VI). München 1992, p. 342s. 589 meiro momento. Da conspiração contra Hitler ainda não se sabia nada de concreto. Apenas se queria dar um sinal à cúpula do e- xército, para quem Bonhoeffer trabalhava (para ajudarem na or- ganização da resistência). Assim Bonhoeffer, após os primeiros meses de interrogatório, pode gozar de uma relativa calma para manter sua correspondência com seu amigo Eberhard Bethge. Nessas cartas, publicadas sob o título Widerstand und Ergebung [Resistência e submissão], levanta uma série de questões, que a- inda hoje pertencem às mais provocantes da Teologia cristã. Dentre essas destaca-se a pergunta pela Igreja. Num de seus úl- timos escritos, o programático “Esboço para um trabalho” (julho de 1944), escreve ele: A Igreja é Igreja somente se estiver aí para ou- tros. Para começar, deve entregar tudo aos ne- cessitados. Os pastores devem viver exclusi- vamente de doações livres da comunidade e eventualmente exercer uma profissão secular. A Igreja tem que participar das tarefas secula- res da vida comunitária, não dominando, mas ajudando e servindo. Ela deve dizer às pessoas de todas as profissões o que significa uma vi- da com Cristo, o que significa, “estar-aí-para- outros”. [...] Isso é expresso de maneira muito crua e sumária, mas quero fazer a experiência de expressar simples e claramente determina- das coisas das quais geralmente nos desvia- mos. [...] Espero, com isso, poder prestar um 4 serviço ao futuro. Esse “serviço” ele o prestou, tanto com seu esboço como com seu agir. Em setembro de 1944, finalmente, os indícios dos co-autores do atentado de 20 de junho contra Hitler levam ao cír- 4Widerstand und Ergebung (DBW 8). Gütersloh 1998, p. 560s. 590 culo de Dohnanyi, portanto também a Bonhoeffer. Em 8 de se- tembro, é levado à prisão da Gestapo, na Prinz-Albrecht-Gasse. Em fevereiro de 1945, é enviado ao campo de concentração de Buchenwald. No dia 8 de abril, portanto pouco antes da capitula- ção da Alemanha nazista, é condenado à morte em Flossenburg e enforcado. Conceitos eclesiológicos centrais No conceito eclesiológico de Bonhoeffer, como se desen- volveu sob o impulso dos eventos históricos e biográficos, al- guns pontos merecem ser destacados. 1 A decisão A decisão deve ser vista como um momento central da existência da e do ser na Igreja. Sendo de fato a Igreja a presença de Cristo no mundo, essa presença deve ser definida como tem- poral (quer dizer, não metafísico-estático e não-espacial, no sen- tido profano/sagrado, cf. abaixo) em relação ao kairós da confis- são, do seguimento e da aceitação e da obediência ante o man- damento de Deus. Assim, a Igreja não é mais caracterizada como um lugar separado do “mundo”, mas pela ação histórica concre- ta: “Somente quem clama em favor dos judeus pode cantar gre- goriano”, instiga Bonhoeffer em 1935 à memória dos cristãos. Daí seguem duas conseqüências: 1) O “pensamento espacial”, como Bonhoeffer diz insis- tentemente no texto programático de sua Ethik (Christus, die Wirklichkeit und das Gute. Christus, Kirche und Welt), é descar- tado na Teologia: Por mais difícil que seja escapar da condena- ção a esse pensamento espacial, é certo que contradiz profundamente o pensamento bíbli- 591 co e da Reforma, e que portanto passa ao largo da realidade. Não existem duas realidades, mas apenas uma, e esta é a realidade divina tornada manifesta em Cristo na realidade do mundo. [...] É uma negação da revelação divi- na em Jesus Cristo querer ser “cristão” sem ser “secular” [literalmente, “mundano”, n. T.], ou querer ser secular sem ver e reconhecer o mundo em Cristo. [...] O pensamento espacial entende os conceitos-pares secular-cristão, na- tural-sobrenatural, profano-sagrado, racional- revelado como contraposições estáticas últi- mas com as quais determinadas realidades mutuamente excludentes são designadas. Des- conhece a unidade original dessas contraposi- ções na realidade de Cristo. 5 Toda fuga para estruturas pretensamente santas, não con- taminadas pelo mundo e suas necessidades, assim como toda au- to-segurança ética, que pensa anunciar uma verdade a-histórica, eterna, longe dos desafios sociais concretos, com isso é recusada, assim como a separação entre uma Igreja auto-suficiente e um mundo “fora”, que na melhor das hipóteses seria território de missão e, sem autoridade própria, fosse apenas receptor das ver- dades eclesiais. 2) A realidade se torna “sacramento” do mandamento di- vino, quer dizer, o mandamento é essencialmente carregado pela realidade, ou seja, a realidade histórica, sem a qual não pode ser visibilizado. As duas conseqüências, assim parece, dão a impressão de uma possível dissolução do querigma ou da Igreja na ação ética e sua propagação. Essa suspeita é tanto maior, quando se lêem as reflexões sobre o cristianismo sem religião e a maioridade do 5 Ethik (DBW VI). München 1992, p. 43s. 592 mundo em Widerstand und Ergebung. No entanto, essa suspeita revela-se inconsistente, quando se lêem os escritos com mais a- tenção. 2 Representação vicária A Igreja, de fato, assim Bonhoeffer, tem a tarefa da re- presentação vicária: A Igreja, como entidade comunitária própria, serve à realização da ordem divina da procla- mação e, na realidade, de duas maneiras. Pri- meiro, na medida em que tudo nessa entidade comunitária está orientado para a comunicação eficaz do anúncio de Cristo a todo mundo, de tal maneira que a comunidade mesma é apenas instrumento, meio para o fim. Em segundo lu- gar, na medida em que, nesse assumir da co- munidade para o mundo, aconteceu o objetivo e o início da realização do preceito divino do anúncio. [...] O conceito de representação vicá- ria expressa essa dupla relação da maneira 6 mais clara. A representação vicária designa o ser de Cristo, como tal, e com isso a essência do agir responsável, pelo qual se deve a- bordar o tornar-se verdade de Cristo no mundo ou na história. Daí ser a Igreja, em sua função vicária, verdadeira presença de Cristo no mundo. Com isso ela simplesmente revela essa presen- ça, assumindo a responsabilidade por outros. Isso concretamente significa: 6 Ethik (DBW VI). München 1992, p. 408. 593 1) O ser da Igreja consiste em “estar-aí-para-outros” ; 2) A Igreja não é Igreja de Cristo se se afirma apenas na autodefesa; 3) A Igreja é Igreja de Cristo, sobremaneira, se assume “a perspectiva a partir debaixo”. Aqui se mostra o estreito entrelaçamento da ética e da cristologia. Exatamente porque Jesus viveu vicariamente para a humanidade, é ele o “representante” do ser humano, entronizado e confirmado por Deus, o novo Adão e ser humano nele justifi- cado, porque Deus contempla o ser humano na luz de Cristo. Nessa representação vicária, porém, Eucaristia e ética, política e mística não podem mais ser separadas. A verdade de Cristo rea- liza-se aí onde se vive vicariamente; a transformação do mundo em Cristo é evento eucarístico e político. Inversamente, deve di- zer-se também que toda ética tem sua dimensão de profundidade na realidade de Cristo. Essa justificação do mundo em Cristo, no entanto, não significa que o mundo perca sua autonomia, antes atinge, assim, sua verdadeira autonomia, que traduz um outro conceito-chave da eclesiologia de Bonhoeffer. 3 A Igreja e o mundo A autonomia do mundo, que recusa o “Tutor Deus”, não deve ser vista como um risco. Pelo contrário, segundo Bonhoef- fer, abre a perspectiva para o Deus bíblico. A Igreja é testemunha desse Deus, presente na impotência da cruz e, com isso, exige o desenvolvimento do mundo em direção à sua maioridade. Como SUA testemunha não pode, através da apologética, defender o lugar de Deus no mundo, mas conduzir as pessoas a uma “inter- pretação não-religiosa dos conceitos bíblicos”, isto quer dizer, uma interpretação que não mais se apóia num conceito “metafí- sico” ou “individualista” de Deus. Tal interpretação nasce, e é inseparável, da essência da Igreja acima formulada, porque não pode ter lugar num plano puramente teórico. Esse plano pura- 594 mente teórico seria muito mais o que Bonhoeffer entende por “religioso”. Seria auto-segurança da Igreja, possuir um Deus to- do-poderoso que lhe desse um fundamento último, que não fosse tocado pela história e as exigências do outro. Poderia dizer-se também que a “religião” significa a busca de uma auto identida- de, para a qual o(a) outro(a) não é constitutivo(a) exteriormente. Exatamente, porém, porque Deus em Cristo é servo do ser hu- mano, “para outros”, mostra-se a graça divina no fato de o ser humano e a Igreja terem seu fundamento em Deus, quando, na disposição da entrega da própria vida e de toda auto-segurança, seguem a Cristo, em decisão livre, quer dizer, na maioridade e na fé. O discurso correto a respeito de Deus, dessa maneira, não é mais auto-segurança metafísica “ciente” ou recurso positiva- dor, exatamente como também a tarefa da Igreja não deve mais ser concebida positivamente (no sentido de fixar-se em determi- nadas leis). Muito mais, o caminho do seguimento cristão é ca- racterizado pelas atitudes do silêncio e do agir responsável. Na homilia do batizado do filho de seu amigo Bethge (maio de 1944), escreve Bonhoeffer a esse respeito: Até que sejas grande, a forma da Igreja terá mudado [...]. Não é questão nossa, prever o dia – mas o dia chegará – no qual outra vez se- rão chamadas pessoas a dizerem a palavra de Deus de tal maneira que o mundo se mude e renove. Será uma nova linguagem, talvez in- teiramente arreligiosa, mas libertadora e sal- vadora, como a linguagem de Jesus, a ponto de as pessoas se espantarem sobre a mesma e, no entanto, serem vencidas por seu poder, a linguagem de uma nova justiça e verdade, a linguagem que anuncia a paz de Deus com a humanidade e a aproximação do seu reino. [...] Até a causa dos cristãos será uma causa silen- ciosa e escondida – mas haverá pessoas que 595 rezam e fazem o que é justo e esperam pelo 7 tempo de Deus. Nessa atitude soam dois outros motivos de Bonhoeffer: 1) A confissão de culpa, escrita ainda em 1941 e publica- da na Ethik (no capítulo Schuld, Rechtfertigung, Erneuerung [Culpa, justificação, renovação]). 2) A disciplina do arcano, um conceito da comunidade primitiva, que visa preservar a essência da Igreja como represen- tante vicária de Cristo na terra, sem devaneios fundamentalistas, ou sem cair num pragmatismo, que significasse a renúncia às es- peranças escatológicas. Seu sentido próprio depreende-se da se- paração entre “último” e “penúltimo”, como o exprime Bonhoef- fer na Ethik (cf. o capítulo Die letzten und die vorletzten Dinge [As coisas últimas e penúltimas]). Nunca existe um acesso ime- diato, positivador, ao “último”, isto é, à realidade escatológica de Deus. O caminho para lá acontece muito mais pelo penúltimo, quer dizer, pelo engajamento radical na realidade, pro aliis. Isso, não pode, a sua vez, ser entendido como realidade última, por- que, nesse caso, o ser humano cairia na auto-salvação, e com is- so, no fanatismo e na ideologia. Resumindo, pode dizer-se, então, que a Igreja assume po- sitivamente a representação vicária de Cristo no mundo, ao as- 8 sumir a responsabilidade por outros. O agir responsável está sempre sob a sombra do limite (da culpa, da adequação à reali- dade) e carrega em si sempre um indicativo negativo à salvação final. Não se trata de um agir puramente responsável no qual se tem a segurança da justificação final, mas muito mais de um a- gir de natureza ideológica. 7 Widerstand und Ergebung (DBW VIII). Gütersloh 1998, p. 436. 8 Isso obviamente não pode ser mal-entendido, como se a Igreja infantilizasse o outro. “Responsabilidade por outros” é de se entender muito mais no sentido de que não pode assumir uma posição neutra, mas se encontra sob o apelo pa- ra uma opção pelas necessidades e necessitados do mundo. 596 Como tarefa da Igreja, ao lado do agir responsável, deve apontar-se, portanto, também para a esperança escatológica. Nisso está o sentido da oração e do silêncio (e da celebração da Eucaristia e da administração dos sacramentos). Não existe, po- rém, oração sem ação responsável, não há silêncio sem clamor por justiça. Para Bonhoeffer, isso teve o sentido de que sem re- sistência não podia haver submissão (entrega) à vontade de Deus. Tradução do alemão: Érico João Hammes 597
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